quarta-feira, 28 de julho de 2010

Mystery Jets - Serotonin (2010)

"A serotonina é um neurotransmissor, isto é, uma molécula envolvida na comunicação entre neurônios. Esta comunicação é fundamental para a percepção e avaliação do meio e para a capacidade de resposta aos estímulos ambientais. Diferentes receptores detectam este neurotransmissor, envolvido em várias patologias. Diversos fármacos que controlam a ação da serotonina como neurotransmissor são atualmente utilizados, ou estão sendo testados, em patologias como a ansiedade, depressão,obesidade,enxaqueca e esquizofrenia, entre outras. Em geral, os indivíduos deprimidos têm níveis baixos de serotonina no sistema nervoso central".


Depois dessa aula de biologia, dá para perceber que o novo disco do Mystery Jets soa serotonina demais em cada faixa, cada verso. Parece que no momento em que compunham o disco, os integrantes ou estavam sob efeito desse neurotransmissor ou resolveram dar uma volta pelos nostálgicos anos 80, com quem sempre tiveram um flerte (eu diria até ingênuo e sem grandes ambições). Ao que se pode perceber, estavam mesmo muito deprimidos ou sob os tiques da esquizofrenia. Não que Serotonin seja um álbum ruim, mas para a maioria dos fãs que fizeram uma cuidadosa audição, pode ter parecido impactante o fato de que aquele velho Mystery Jets dos tempos do maravilhoso Twenty One, o albúm anterior, tenham sido sepultados nas batidas retrô e tenham ficado excessivamente românticos, melosos e grudentos como calda de açúcar.

Enquanto em Twenty One a banda encontrava em si mesma e nos seus integrantes os dilemas corriqueiros da vida e representavam isso com um lirismo e interpretação vindos do fundo da alma, em Serotonin percebemos os integrantes da banda mergulhados em dilemas românticos esbarrando quase, mas quase, em parâmetros cafonas de faixas como "Lorna Doone", que se não fosse pelo refrão uivado sem parar, até poderia ser uma boa canção.

É de se estranhar o fato daquela banda que em Twenty One soube transmitir a perfeição de refrões marcantes e profundos e em ritmos que eram pura melancolia, desatar em puro romantismo bobo e faixas não tão significantes assim nesse novo disco. Ou eles estavam dopados demais que não perceberam isso ou então podemos esperar umMystery Jets mais otimista daqui para frente, o que seria um desperdício de criatividade vindo deles, que sabem manipular o tédio, a tristeza em doses moderadas como nenhuma outra banda já o fez.

"Alice Springs" é uma boa faixa de abertura e soa como a banda que o Mystery Jets foi e também indica os caminhos que o Mystery Jets tomará. "Too Late to Talk" é a tradução do que a banda conseguiu em Serotonin: é uma faixa contaminada por esse neurotransmissor. "The Girl Is Gone" é um expoente dos dilemas amorosos bobinhos pelos quais a banda está afundada até o pescoço. "Flash a Hungry Smile" é dançante, assobiada e desconexa bem descompromissada onde os sintetizadores dão as caras, para ouvir em um passeio com o namorado(a). 

"Serotonin" é moderna, quase sussurrada que entra fundo nos 5 sentidos do nosso corpo, e acredite, é uma das melhores músicas desse novo disco e contém 0% da malfadada serotonina citada como quase perdição para a banda. "Dreaming of Another World" é o segundo single do disco e nessa faixa a banda conseguiu sintetizar o meloso com o retrô e o moderno de forma bem cool. "Lady Grey" demora para engatar mas depois vira uma baladinha para ouvir no quarto quando o tédio reinar. "Waiting On a Miracle" é talvez a faixa mais sóbria do disco, sem tanto drama por um coração partido. "Melt" é quase imperceptível até o refrão chegar.

Serotonin não é um Twenty One nem possui faixas tão grandiosas como "Flakes", "Veiled In Grey", "Umbrellahead", "First To Know", ou "Behind The Bunhouse" (isso só para citar algumas), porém passa longe de ser uma grande decepção. Que banda nunca passou por um momento instável e iludido na carreira? O ponto é que, a partir deSerotonin, talvez uma nova banda esteja pronta para vir à tona e mudar conceitos. E o que nós, fãs, esperamos, é que essa mesma banda que nos encanta desde sempre, não se esqueça totalmente de suas raízes já tão fixadas em nossas mentes assim como a nossa serotonina de cada dia.

NOTA: 7,5

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