sábado, 14 de agosto de 2010

Interpol - Interpol (2010)



Existem vários motivos pelos quais uma banda decide auto-intitular-se em seu quarto trabalho. No caso do Interpol fica fácil perceber os motivos; desde a difícil tarefa de expurgar a crítica negativa ao trabalho anterior (Our Love To Admire, que na minha opinião nem foi tão ruim assim devido à beleza de suas composições, etc.) como também o fato de uma tentativa de trazer à tona aquele velho Interpol de tempos atrás a.k.a. Turn On The Bright Lights e Antics.

Mas nem só dos revivals dos tempos áureos vive uma banda, principalmente uma banda de rock do calibre do Interpol. A saída do baixista Carlos D. após a gravação desse último trabalho, resultou em perdas e ganhos. Isso mesmo, no lugar do competente baixista, o não menos competente e talentoso David Pajo dá as caras.
Quanto a Paul Banks, esse é um caso perdido em meio ao obscurantismo que ele transpira em cada célula e cada nota que emite. Sua presença é a sombra que paira no âmago das melodias cada vez mais etéreas. Em Interpol, esqueça aquela urgência exacerbada dos dois primeiros trabalhos já citados e espere por faixas introspectivas e cheias de lirismo. Em "Success", faixa que abre o disco, percebemos logo nas primeiras notas que algo está vindo e não é difícil re-habituar nossos ouvidos aos lamentos em tom de romaria de Paul Banks.


Logo depois, tão repentinamente quanto a faixa anterior, "Memory Serves" destoa do meio da lama, abafada e arrastada como um nó no estômago - batidas lúgubres do começo ao fim. "Summer Well" tem um "quê" da nova face que o Editors assumiu recentemente em seu último disco. "Lights" é a melhor do disco sem dúvidas e representa a essência do Interpol. É uma música arrastada, cheia de suspense nos primeiros acordes, vocal sofrido e gélido. O vídeo de "Lights" também não decepciona; lembra um ensaio para algum editorial de moda. É gritante a estética obscura e "fashion" que o Interpol assume. 


"Barricade" é o eco dos tempos áureos da banda. Pelo menos é isso que todos estão dizendo e é tão boa quanto "Lights". "Always Malaise (The Man I Am)" = lamentos sem fim de um vocalista perdido em alguma atmosfera soturna. Em "Safe Without" é perceptível a influência post-punk que nunca abandonou a banda. "Try It On" tem um pianinho (ou misterioso demais ou chato demais) e conta até mesmo com assobios no início. "All of the Ways" lembra muito o álbum anterior da banda. Por fim, "The Undoing" soa como uma melancólica despedida e poderia muito bem tornar-se um single, pois tem tem um encanto indecifrável.

Interpol finalmente mostra sua cara aos fãs apreensivos. Se é um bom trabalho ou não, é um fator que divide opiniões. O legal desse trabalho é que definitivamente o Interpolrasga o véu e assume que sua principal influência não são as batidas roqueiras, mas o cinzento post-punk. Pelo visto a banda continuará nessa veia musical queiram os fãs ou não e Paul Banks e cia. fazem muito bem ao enraizarem no revival desse estilo oitentista. A redenção de Paul, na verdade, é sofrer as desilusões e a incompreensão de viver numa época talvez colorida demais. E cor é o que, por sorte, falta ao Interpol.

Nota: 8,0

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