Depois do deleite inicial com o EP All Delighted People lançado em agosto, você pode pensar que o seu conteúdo serve como uma lembrança simpática e humilde de canções que merecem ser ouvidas, mas que pertencem a um capítulo na vida artística de Stevens que ele precisava enfrentar para encerrá-lo. Em The Age Of Adz, talvez você pense a mesma coisa, mas estaria errado sobre isso. The Age Of Adz soa exatamente como tudo o que Stevens já gravou antes. A melodia forte e o fraseado trancados com arranjos sinfônicos e a alegre cacofonia de buzinas nos convida a relembrar álbuns como Come On Feel the Illinoise e Michigan, ainda envolto em uma camada de batidas e bleeps.
Sufjan Stevens sempre usou traços largos, mas nunca de forma mais eficaz do que emThe Age Of Adz. Não estou dizendo que este é um álbum excelente, pois tem um limite rígido e brilhante que fere o senso de eufonia de qualquer um. Além disso, faixas como "Bad Communication" não funcionam no todo. O foco insiste na dissonância enquanto ao fundo ecoa algo como o que um estudante de arte faria em seu laptop ao escrever um ensaio sobre o Surrealismo.
O disco é firme em detalhes melódicos como nos álbuns anteriores mas tem uma infinidade de encantos. Em Adz, você pode encontrar o mesmo tipo de harmonias corais encontrados num musical do Mágico de Oz ou outros filmes da mesma época, deliciosamente imaginados como os ritmos de um ônibus escolar que dá solavancos e o uso comedido e incomum de dissonância permanente. A ideia original por trás doprog rock costumeiro, foi elevar o rock a um novo nível de credibilidade artística como em "All for Myself", uma canção que varre através de movimentos como uma sinfonia. "Futile Devices" é a cereja do bolo; ecoa nos translúcidos vocais e em doces dedilhados que induzem ao sonho, tornando-se o principal atrativo do álbum.
"Too Much" é a estranha da vez. Cheia de reverbs e batidas ocas como o som de um pica pau insistente na madeira, essa canção é uma indigesta prova das habilidades excêntricas de Stevens. "Age of Adz" é outro produto pouco usual saído do repertório experimental do cantor. "I Walked" conta com o tom operístico, característica marcante no currículo de Stevens e "Now That I'm Older" é balanceada entre cadência monótona e coral, enquanto que "Get Real Get Right" (depois de desgastada audição do resto do disco), não apresenta lá grandes inovações. "Vesuvius" é comedida, bela e destoa da alquimia moderna e confusa de "I Want To Be Well" e "Impossible Soul" - esta última faria bonito num remix dançante.
Para quem esperava por The Age Of Adz como mais um item para complementar a famosa lista de melhores do ano, talvez acabe por se decepcionar. Não é um trabalho ruim, mas previsível e repetitivo que se utiliza de táticas confusas para chamar atenção. Como já havia questionado em um post anterior, o que leva alguém com uma voz tão linda e uma criatividade fantástica como Sufjan Stevens a consumir-se em canções estranhas e distanciar-se tanto de suas obras primas (leia-se Illinois e Seven Swans)? Cada qual com seus motivos, Stevens continua a ser ainda um gênio pouco funcional para os dias de hoje e não passa disso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário